LINHA DE PESQUISA 2: EDUCAÇÃO, SABERES E CULTURAS

 

História da Educação em perspectivas decoloniais: contribuições teóricas e metodológicas dos Programas de Pós-graduação em Educação das Amazônias brasileiras.

Coordendor: Prof. Dr. Vitor Sousa Cunha Nery

Tematizar a História da Educação em perspectivas decoloniais, parte de minha historicidade como pesquisador engajado com sujeitos sociais deixados à margem da sociedade, pelo paradigma moderno-colonial. Foi desse engajamento, por exemplo, que desenvolvi a tese doutoral, intitulada: “Colonialidades pedagógica na instrução pública primária na Comarca de Macapá (1840-1889)”, em 2021. Dizemos haver uma relação de colonialidade entre as regiões Sul e Sudeste do Brasil, em relação às demais, principalmente ao Norte, não sem motivo, a pesquisa sobre “História da Escola Primária no Brasil: investigação em perspectiva comparada em âmbito nacional” de Souza, Pinheiro e Lopes (2015)agrega pesquisas do eixo sul-sudeste e chega até ao Maranhão. Não há no Norte universidades como, a UEAP no Amapá e a UEA no Amazonas que podem ter a contribuir com tal debate? Contudo, movimentos de resistência e empoderamento existem. Em relação à possibilidades para a pesquisa em História da Educação no contexto amazônico, já se percebe nos PPGED um movimento de produção historiográfico-educacional, que se abre para referências de pesquisa para além da perspectiva eurocêntrica, com problematizações e metodologias que levem em consideração experiências educativas “outras” e que valoriza conhecimentos pedagógicos diversos para além da educação escolar, como: Sousa (2014); Mota Neto (2016); Lima (2019); e Nery (2021). De nosso ponto de vista,considera-se que os historiadores da educação nas Amazônias têm se dedicado nos últimos anos a investigar sujeitos e práticas educativas “outras”, no contexto de experiências de comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, movimentos sociais rurais e urbanos, tendo a sensibilidade de dar centralidade aos sujeitos, compreendendo-os como intelectuais, produtores e intérpretes da realidade social. É dessa matriz epistemológica “outra” que a história da educação brasileira se faz como construção cultural complexa, gestada em um contexto dotado de determinadas características socio-históricas decoloniais, carregados de colonialidades, mas que a epistemologia de uma perspectiva histórica hegemônica produz uma narrativa da modernidade dissociada do ponto de vista da vítima do sistema-mundo (NERY; DIAS; NERY, 2020). Estudos e pesquisas nessa direção podemcontribuir com o rompimento das colonialidades presentes em nossa sociedade que começam a ser ensinadas em sala de aula desde a educação básica, onde os currículos supervalorizam a cultura europeia branca, heterossexual, cristã e masculina e inferiorizam e vitimizam a diversidade do gênero humano, distinta do dito padrão hegemônico, em especial os indígenas e africanos. De nossa parte, considera-se que as colonialidades presentes nos cursos de formação de professores influenciam práticas pedagógicas e ações no contexto da educação escolar. Tais conhecimentos histórico-educacionais em perspectiva decoloniais podem e devem ser divulgados nos diversos ambientes educativos, desde os movimentos sociais, como espaços de luta e resistência em vista de uma sociedade justa e transmoderna, a ambientes da educação escolar básica, assim como no âmbito da formação de professores.

EPISTEMOLOGIAS E METODOLOGIAS INDÍGENAS: CURRÍCULOS, COTIDIANOS E FORMAÇÃO DE MOVIMENTOS

Coordendor: Prof. Dr. Leonardo Ferreira Peixoto

Investigamos as redes de influências e criações das políticas práticas curriculares cotidianas com os movimentos indígenas. O título deste projeto enuncia as ações dos movimentos indígenas e a circularidade dessas políticas práticas.  É comum às/aos pesquisadores filiados à linha de pesquisa com os cotidianos escolares criar neologismos ao unir palavras (e por serem neologismos, escrevem-se em itálico), quando não encontramos em nossa língua uma palavra expresse o que pretendemos dizer.  A lógica da modernidade é dividir para conquistar, a lógica da fragmentação para a colonização. Nossas pesquisas se opõem ao pensamento moderno ocidental. Questionamos: Quais os conhecimentos, as visões, os regimes de verdade e os modos de fazer dos povos indígenas? Quais as políticas práticas curriculares forjadas nos cotidianos dos movimentos indígenas? Quais são as histórias e memórias destes povos? Como estes movimentos percebem a importância da educação para seu povo? Quais as suas metodologias de produção de conhecimentos e de (auto)formação? Temos trabalhado em parceria com a Profa. Dra. Danielle Bastos Lopes (UERJ), Coordenadora do Grupo de Pesquisa Estudos Ameríndios e Fronteiras (GEAF – CNPq) e com o Prof. Edson Krenak (Universität Wien). Sobre as metodologias indígenas, aprendemos com Edson a necessidade de considerarmos suas pluralidades, bem como as epistemologias, as ontologias e as axiologias que as fundamentam.

 

MULHERES DA FLORESTA, EDUCAÇÃO, SABERES E AGROECOLOGIA: OUTRAS EPISTEMOLOGIAS

Coordenadora: Profa. Dra. Rita de Cassia Machado Fraga

Esta investigação pretende construir um mapa de experiências agroecológicas no médio Solimões/Amazonas protagonizada por mulheres e pretende retomar conceito teórico de agroecologia e suas epistemologias no viés do materialismo histórico e dialético. Ao mesmo tempo, anuncia que esse conceito, nos últimos dez anos, tem dado voz as mulheres que vivem na floresta. Pretende-se também fazer alguns apontamentos para a educação comunitária? tendo como referência as práticas de participação e agroecologia que se vem vivenciando na pesquisa e extensão? e então afirmar algo que vem muito a propósito do tema a ser abordado: em Freire (2001) toda prática educativa envolve uma postura teórica por parte da educadora. Como Caporal e Costaber (2002) entendemos que a agroecologia tem sido reafirmada como uma ciência ou disciplina científica, ou seja, um campo de conhecimento multidisciplinar que apresenta uma série de princípios, conceitos e metodologias que nos permitem estudar, analisar, dirigir, desenhar e avaliar agroecossistemas. Nesse sentido, como sendo em essência, o enfoque Agroecológico corresponde à aplicação de conceitos e princípios da Ecologia, Agrofloresta, da Agronomia, da Sociologia, da Antropologia, das Ciências da Comunicação, da Economia Ecológica e de tantas outras áreas do conhecimento, no redesenho e no manejo de agroecossistemas que queremos que sejam mais sustentáveis através do tempo. Entendemos que a agroecologia é uma forma de intervenção no mundo em que o diálogo com a existência é ou pode ser bastante fecundo, principalmente na produção de alimentos com as mulheres. Segundo Hecht (1999), a agroecologia incorpora com frequência ideias sobre um enfoque da agricultura mais ligado ao meio ambiente e mais sensível socialmente? e está centrada não só na produção, mas também na sustentabilidade ecológica do sistema de produção. Esses conceitos aplicados na prática educativa com as comunidades tradicionais com mulheres redesenham uma relação que é ontológica e unitária entre floresta e indivíduos, percebe-se que ambas se unificam na produção de suas existências.

 

NARRATIVAS DO OUTRO: IDENTIDADE, LÍNGUA E CULTURA NA ANÁLISE, DISCUSSÃO E MAPEAMENTO DO PORTUGUÊS INDÍGENA E INTERCULTURALIDADE NA UNIVERSIDADE.

Coordenadora: Profa. Dra. Célia Aparecida Bettiol

Consiste numa pesquisa documental de abordagem qualitativa e objetiva compreender como o repertório cultural (conhecimentos tradicionais, ancestralidade, língua) dos acadêmicos indígenas se manifestam no seu percurso formativo e como esses repertórios (conhecimentos tradicionais, ancestralidade, linguagens e interculturalidade) se manifestam nas suas narrativas, bem como quais as variações encontradas no português indígena desses acadêmicos.

 

OS QUINZE ANOS DAS QUOTAS ÉTNICAS DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS NAS VOZES INDÍGENAS.

Coordenador: Prof. Dr. Marcos Andre Ferreira Estacio 

As discussões e implementações da reserva de vagas no ensino superior, a partir de critérios étnicos e raciais, enquanto um dos gêneros de ações afirmativas, foram iniciadas no Brasil, pelas universidades públicas, no início dos anos 2000. Na região norte, foi a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), a primeira instituição a reservar vagas para estudantes indígenas, a partir da promulgação da Lei Estadual nº 2.894/2004. Nesse sentido, ao tempo que o sistema de quotas para indígenas da UEA completa quinze anos, se propõe o presente estudo, para problematizar e analisar a política de ação afirmativa do tipo quotas étnicas da Universidade do Estado do Amazonas, a partir das vozes e compreensões dos alunos indígenas que ingressaram nessa instituição de ensino por tal sistema. Metodologicamente, a natureza da pesquisa será qualitativa e quantitativa e o método utilizado será o histórico-crítico. Os tipos de pesquisa serão a documental e a de campo. A pesquisa será realizada nas unidades acadêmicas da UEA localizadas em Itacoatiara, Manaus, Parintins, Tabatinga e Tefé. Os participantes serão os estudantes indígenas que ingressaram nesta instituição de ensino pelas quotas étnicas. Para coleta de dados, os instrumentos utilizados serão questionários mistos, entrevistas do tipo semiestruturadas e grupo focal. Compreende-se que as ações afirmativas almejam concretizar a igualdade de oportunidades, explicitado na Constituição brasileira, sustentando um tratamento desigual aos desiguais. Especificamente, podem ser políticas compensatórias ou distributivas, que buscam, não somente, uma igualdade e bens materiais, mas também, culturais, com a exigência do reconhecimento das múltiplas identidades.

 

FUNDAMENTOS DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO: SABERES E CULTURAS ESCOLARES 

Coordenador: Prof. Dr. José Vicente de Souza Aguiar

A proposta tem como foco os estudos dos fundamentos didáticos/epistêmicos da pesquisa em educação e saberes, considerando o aporte fenomenológico e aproximações aos estudos pós-estruturais. As atividades são desenvolvidas a partir da construção de entendimento fenomenológico da pesquisa em educação, ensino de ciências e saberes, centrado em estudos fenomenológicos da existência a partir das experiencias realizadas no mundo vivido com a porte principalmente em Merleau-Ponty, cujos propósitos visam compreender os fundamentos da percepção no ato de pesquisa, do ensino e aprendizagem, além de articularmos essa perspectiva fenomenológica às formas como os agentes representam os seus mundos vividos considerando a sua relação com ele. O aporte fenomenológico sugere que pensemos a relação do homem como o mundo e com a ciência a partir da ideia de que? Tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu o sei a partir de uma visão minha ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência não poderiam dizer nada. Todo o universo da ciência é construído sobre o mundo vivido, e se queremos pensar a própria ciência com rigor, apreciar exatamente seu sentido e seu alcance, precisamos primeiramente despertar essa experiência do mundo da qual ela é a expressão segunda? (MERLEAU-PONTY, 2011, pp. 03/04). Para a consolidação desse projeto articulamos os estudos a Jean Pierre Astolfi, André Giordan e Gaston Bachelard, principalmente, com foco para os aspectos da formação do pensamento e os obstáculos epistêmicos; a formação científica e as aproximações sucessivas; o tratamento didático dos obstáculos epistemológicos para a educação e o tratamento didático do erro para os processos educativos.

 

EDUCAÇÃO E SABERES TRADICIONAIS: BASES EPISTEMOLÓGICAS E DIDÁTICO-METODOLÓGICOS

Coordenador: Prof. Dr. Mauro Gomes da Costa

A Área da Educação na estrutura da CAPES atesta a relevância do ponto de vista epistemológico das pesquisas voltadas para as interfaces entre Educação e saberes tradicionais. Do ponto de vista acadêmico, o projeto visa contribuir com a formação do espírito científico de acadêmicos de graduação mediante a participação em projetos de pesquisa articulados ao projeto político-pedagógico do curso de licenciatura em Pedagogia. Considerando ainda que, dentre os objetivos do Programa de Apoio à Iniciação Científica está o de qualificar quadros para o ingresso nos programas de pós-graduação, o projeto em tela também está vinculado ao Programa de Pós-Graduação de Educação e Ensino de Ciências na Amazônia no qual o proponente orienta dissertações na temática do projeto. O projeto adota como pressuposto a intervenção e o desenvolvimento enquanto dimensões indissociáveis da pesquisa.

 

CIÊNCIA E MÉTODO: A LÓGICA EPISTEMOLÓGICA INDUTIVA E O DIÁLOGO DOS SABERES

Coordenador: Prof. Dr. Victor Leandro da Silva

Desde o surgimento da ciência moderna, a questão do método tem sido de fundamental importância para a definição do campo próprio e da organização da pesquisa científica. A partir dos diversos modelos propostos, seu conhecimento pôde desenvolver-se e ampliar seus horizontes de investigação e resultados, de modo que é possível afirmar que a ciência jamais atingiria o patamar em que se encontra não fossem os seus estatutos metodológicos. No entanto, os êxitos científicos não implicam de nenhum modo que suas metodologias estejam já sedimentadas. Se, em suas origens, houve uma inclinação declarada pelo procedimento indutivo, que encontrou seu corolário nas teses positivistas, desde o início do século XX, teóricos como Feyerabend (2009), e, mais recentemente, Boaventura de Sousa Santos (2009), questionaram o primado da indução, propondo modelos mais abertos que levassem em conta os saberes produzidos pelas mais diferentes culturas. Por outro lado, Popper (2013) e outros procuraram rever o lugar epistemológico da ciência indutiva, mas sem abandonar a ordem racionalista centralizante, porém retirando do indutivismo o primado sobre a cientificidade. Assim, a discussão sobre o método da ciência está longe de encontrar um paradigma absoluto, mantendo seu debate em constante discussão. Nas ciências humanas, o embate é ainda mais acirrado. A tentativa de impor o modelo das ciências da natureza aos estudos do homem resultou em absoluto malogro, uma vez que seus critérios, objetividade, observação e experimentação, indução não se mostraram capazes de apreender o ser humano em sua complexidade. Com isso, procuram-se alternativas para demarcar o estatuto epistemológico dessas ciências, resultando em propostas ainda mais abertas e propensas à intervenção de elementos estranhos à tradição científica. Todas essas querelas revelam uma necessidade que lhes é intrínseca: é preciso pensar constantemente os pressupostos da cientificidade. E, como cerne dessa questão perene, encontra- se o método, elemento-chave para a instituir o caráter científico a todo tipo de investigação. Podemos atribuir a Descartes a primazia sobre a inserção do problema metodológico nas práticas científicas. Na verdade, foi ele o responsável por estabelecer, no âmbito das ciências modernas, as regras a partir das quais estas foram orientadas, primeiro, como sua proposta de dividir cada uma das dificuldades que examinasse em tantas parcelas quantas fosse possível e necessário para melhor resolvê-las? (DESCARTES, 2011, p. 34), o que ofereceu fundamento para a divisão e especialização do conhecimento, possibilitando o advento das ciências cada vez mais particulares, já que os problemas deveriam ser divididos em quantas partes fosse possível para seu melhor entendimento. O segundo princípio encontra-se exposto em outra de suas normas expostas no Discurso do Método, que diz, conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos; e supondo certa ordem mesmo entre aqueles que não se procedem naturalmente uns aos outros (DESCARTES, 2011, p. 34/35). Assim, a razão epistemológica deveria progredir por uma ordem, a qual permitiria chegar a proposições claras e verdadeiras das coisas, ou seja, a verdade pode ser obtida somente mediante uma condução lógica de raciocínio, que constitui um método. Obviamente, assim como nos demais pontos do debate epistemológico, o método passou, em especial na contemporaneidade, por diversas revisões, aprofundamentos e contraposições, colocando-se enfim como algo multifacetado e aberto a mudanças e à pluralidade, no que se faz necessário em suas múltiplas variações e considerando o contexto das diferentes culturas, razão própria da justificativa do presente projeto.

 

CURRÍCULO, DIFERENÇA E SABERES NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES INDÍGENAS

Coordenadora: Adria Simone Duarte de Souza

O projeto analisa como a proposta formativa da Universidade do Estado do Amazonas/UEA trata as questões sobre diferenças junto à formação de professores indígenas. Como metodologia utilizamos a abordagem do ciclo de políticas de Ball e Bowe (apud MAINARDES, 2006). Esta abordagem defende que pensar as políticas educacionais envolve compreendê-las desde a fase de formulação até a sua efetivação/implementação. Essa discussão sobre os currículos de formação, fundada nas culturas e nos saberes das populações originárias do Brasil, ajuda a (re)pensar sobre a exclusividade das atribuições de responsabilidades impostas aos professores indígenas tanto por seus pares (micro) quanto pelo Estado (macro) em relação ao sucesso ou fracasso da educação. A reflexão sobre a necessidade de formação inicial e continuada, na perspectiva política e pedagógica, são fundamentais para que o professor, diante de tantos dilemas e responsabilidades, possa desenvolver as suas atividades visando à construção da escola indígena intercultural, bilíngue, comunitária, específica e diferenciada, ou seja, referenciada nas sociedades e culturas nas quais está inserida.


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